Nos últimos meses, uma tendência particularmente interessante emergiu no ecossistema da solana, a implementação de programas de recompra de tokens (buybacks) por diversos protocolos DeFi.
Neste artigo, realizo uma análise aprofundada de cinco protocolos Solana que implementaram programas de buyback, examinando não apenas o anúncio em si, mas a substância por trás dessas iniciativas. Quais projetos possuem fundamentos sólidos para sustentar essas recompras? Quais estão simplesmente surfando na onda do marketing de uma possível nova narrativa?

Mecanismos de Buyback Eficazes

Antes de analisarmos cada projeto, é essencial entender o que realmente importa em um programa de buyback. Nem todo programa de recompra de tokens é igual, alguns são sólidos, outros são puro marketing.

Aqui estão os 4 pontos-chave que devemos observar para separar os projetos sérios daqueles que só querem chamar atenção

Pilares de um Buyback Sustentável:

  1. Fonte de Fundos: As recompras são financiadas por receitas genuínas e recorrentes do protocolo?

  2. Transparência Operacional: O protocolo divulga publicamente valores, periodicidade e destino dos tokens recomprados?

  3. Significância Econômica: O volume de compra é material o suficiente para impactar a relação oferta/demanda?

  4. Sustentabilidade de Longo Prazo: O modelo de negócios garante a continuidade do programa no futuro?

Um buyback bem estruturado cria um mecanismo deflacionário contínuo, enquanto programas mal concebidos servem apenas como bombas de curto prazo sem lastro fundamental.

Análise Detalhada dos Protocolos Solana com Programas de Buyback


1. Marinade Finance (MNDE) — Pioneiro do Liquid Staking

A Marinade Finance é o protocolo pioneiro de liquid staking na Solana, permitindo que usuários façam staking de SOL e recebam mSOL (um token líquido) em troca, que pode ser utilizado em diversas aplicações DeFi para yield farming, empréstimos e outras estratégias.

Após a recente aprovação do MIP-11 (programa de recompras) e MIP-5 (staking aprimorado), a Marinade implementou mudanças significativas em seu modelo econômico.

Aumentando os buybacks de 40% para 50% do total das taxas do protocolo, sendo recomprados do mercado aberto e adicionados a tesouraria da DAO.

A Fonte de Receita são as taxas de staking (10% da recompensa de staking) e taxas de integração com diversos protocolos como Solend e Apricot Finance.

Os pontos fortes são a transparência da Marinade, publicando relatórios regulares de suas atividades financeiras, incluindo as recompras. A sustentabilidade devido as receitas recorrentes e previsível baseado no volume de staking e um marketcap pequeno do tokem(MNDE).

O ponto fraco é uma concorrência intensa e perda de Market Share com Jito (JTO), que se tornou o maior protocolo de stake da Solana. Renda relativamente baixa. A utilidade do token MNDE, além da governança, ainda é um ponto de desenvolvimento. Programas como o “Active Staking Rewards” são novos e precisam provar sua eficácia em atrair e reter holders de longo prazo.

Referência Oficial: Marinade Finance Tokenomics

2. Jupiter (JUP) — de Agregador de Liquidez a Super App Defi da Solana

A Jupiter consolidou-se como muito mais que um agregador de swaps, evoluindo para um Super App DeFi completo que integra múltiplos serviços financeiros em uma única plataforma. Como principal hub do ecossistema Solana, oferece:

  • Swaps Agregados: Roteamento inteligente entre todas as DEXs principais (Orca, Raydium, Meteora) para garantir melhores preços e menor slippage.

  • Perpétuos (Perps): Trading de contratos perpétuos com alavancagem e liquidez profunda.

  • Launchpad: Plataforma de lançamento de tokens com alocação baseada no volume de swaps do usuário

  • Jupiter Lend: Protocolo de empréstimos cross-margin com colateral diversificado.

  • Ordens Limitadas e DCA: Ferramentas avançadas de trading com execução otimizada.

  • Mecanismo de Buyback: Jupiter implementou um programa de buyback único onde parte das taxas são usadas para recomprar JUP, mas o foco principal está no programa de incentivos à liquidez.

As fontes de receitas vêm das taxas de swap cobradas em suas transações agregada(seu core business) , mas também se estendem para as taxas de lançamento de tokens em seu Launchpad(utilizado para burn de JUP), as receitas geradas pela plataforma de perpétuos e os spreads de empréstimos no Jupiter Lend. Esse fluxo diversificada de renda garante que o protocolo não dependa de uma única fonte, tornando-o mais resiliente e sustentável a médio e longo prazo.

Um elemento crucial e muitas vezes subestimado é o papel do Litterbox da Jupiter — o tesouro comunitário gerido de forma aberta e descentralizada por meio de propostas de governança. Parte das receitas operacionais é direcionada a esse tesouro, que por sua vez pode ser usado para recomprar JUP no mercado aberto, fortalecendo as reservas da DAO e criando pressão compra constante. Além de ser público e com updates diários no twitter.

Os pontos fortes são a transparência da Jupiter, com “Litterbox” (tesouro comunitário) é gerido de forma aberta, com atualizações públicas diárias. Diversos produtos bem sucedidos coletando taxas e não dependendo de apenas uma fonte de renda. Além disso, tem um Mecanismo Híbrido de Valorização combinando recompras para o tesouro da DAO (via receitas operacionais) com queima deflacionária ( taxas do launchpad). E utilidade do token que além de governança, pode ser utilizado como colateral de empréstimos.

Os pontos fracos são um Market Cap elevado e com isso precisa de crescimento muito expressivo para valorizar significativamente e a liberação progressiva de tokens gera pressão vendedora constante.

Referência Oficial: Jupiter Launch Mechanics and Tokenomics

3. Raydium (RAY) —Dex, Launchpad and Perpétuos

A Raydium consolida-se como uma das principais DEXs (Bolsa Descentralizada) do ecossistema Solana, funcionando como hub de liquidez para tokens de todos os tipos — desde ativos de grande capitalização até memecoins. Além de swaps, oferece serviços de farming, launchpad e futuramente perpétuos, posicionando-se como uma plataforma multifuncional.


Raydium aplica um dos modelos mais estruturados de recompras no ecossistema. Do total de taxas geradas: 12% é destinado ao buyback de RAY, 4% vai para o tesourio do protocolo e 84% é distribuído aos provedores de liquidez (LPs).

Esse modelo é aplicado uniformemente em todos os tipos de pools (AMM, CLMM e CP-Swap), garantindo uma aquisição constante de tokens independentemente do volume ser de memecoins ou ativos consolidados.

Os pontos fortes são principalmente o grande volume e das taxas que vem do trading especulativo de memecoins, que historicamente geram fees elevadas. A transparência com dashboard público detalha volume, taxas acumuladas e destino dos recursos. E um modelo sólido de buyback com porcentagem fixa e previsível de recompras, criando pressão compra constante

Já os pontos fracos vem da grande dependência de Memecoins com grande parte do volume e receita está atrelada ao ciclo especulativo de memecoins, que pode variar drasticamente em períodos de baixa do mercado.

  A Raydium é uma peça fundamental na infraestrutura DeFi de Solana e seu modelo de buyback é dos mais transparentes e consistentes. No entanto, depende da manutenção do volume gerado por memecoins para sustentar a valorização do token.

Referência Oficial: Raydium Tokenomics and Buyback Program

4. deBridge(DBR) —Interoperabilidade Multichain

A deBridge posiciona-se como um protocolo fundamental de interoperabilidade multichain, permitindo que usuários e dApps realizem transferências de ativos e mensagens entre mais de 30 blockchains diferentes. Vai além das pontes tradicionais ao oferecer composabilidade cross-chain para contratos inteligentes, tornando-se uma peça crítica na infraestrutura Web3.

Mecanismo de Queima (Burn):

  • 100% das taxas de protocolo são utilizadas para recomprar e queimar (burn) tokens DEBR semanalmente

  • Modelo deflacionário puro e transparente, com queimas executadas de forma programática e verificável

  • Não há acúmulo no treasury — todo valor gerado é direcionado para redução da oferta circulante

Fontes de Receita:

  • Taxas sobre transferências cross-chain de ativos

  • Taxas sobre mensagens e chamadas entre blockchains

  • Receitas de parcerias com projetos que utilizam sua infraestrutura

Pontos Fortes:

  • Utilidade Real: DEBR é usado para governança, descontos em taxas e segurança da rede

  • Tecnologia Superior: Suporte nativo a transferências de dados arbitrários entre chains

  • Modelo Tokenômico Agressivo: Queima semanal compulsória cria escassez programática

  • Adoção Institucional: Parcerias com grandes projetos como LayerZero, Wormhole e Axelar

Ponto Fraco:

  • Concorrência Acirrada: Disputa mercado com gigantes estabelecidos como LayerZero, Wormhole, Chainlink CCIP e Polygon AggLayer, que possuem maior volume e adoção

  • Complexidade Técnica: Protocolo focado em desenvolvedores, com menos apelo direto ao usuário final

Potencial de Impacto: ALTO — Se capturar parcela significativa do mercado de interoperabilidade (estimado em bilhões de dólares), o modelo de queima constante pode valorizar DEBR de forma exponencial. A execução técnica é superior à maioria dos concorrentes, mas precisa traduzir isso em adoção massiva.

Minha Estratégia: Capturar o crescimento dos Buybacks em Cripto

Minha abordagem para essa narrativa de buybacks não é tentar adivinhar qual token específico vai performar melhor, mas sim diversificar. Monto uma “bag” que inclui todos os tokens citados JUP, MNDE, DEBR e outros que adotem mecanismos semelhantes.

A lógica de alocação é simples: pondero pela capitalização de mercado. Tokens com market cap menor recebem uma porcentagem menor da carteira, buscando um equilíbrio que me exponha ao potencial de crescimento sem assumir riscos excessivos em projetos mais especulativos. O objetivo é capturar o crescimento do setor como um todo, e não depender do sucesso de um único projeto.

O que me atrai nessa estratégia é o piso de valorização que o buyback proporciona. Não se trata apenas de especular com base em hype ou fé, mas sim de investir em negócios reais com fluxo de caixa positivo. São protocolos que geram receita genuína e cujas equipes demonstram confiança no próprio produto ao reinvestir lucros no ecossistema, comprando e queimando seus próprios tokens.

É uma narrativa poderosa: aliar o potencial de crescimento de cripto com a solidez fundamental de empresas que valorizam seu capital e compartilham seu sucesso com os holders.